O jornalismo brasileiro deve criar oportunidades com foco na
cidadania, para noticiar as desigualdades raciais e o racismo. A recomendação é
do jornalista Heraldo Pereira, que discursou esta semana no lançamento da segunda
edição do Prêmio Nacional Jornalista Abdias Nascimento, da Comissão de
Jornalistas pela Igualdade Racial (Cojira-Rio).
“Devemos
criar possibilidades [jornalísticas]”, disse Heraldo. “Isso não é ativismo
político, é defesa dos direitos humanos, da cidadania. Dirão que queremos
dividir a sociedade, mas, quando mostrarmos números [estatísticas da
desigualdade], não tem quem não ficará constrangido”, completou o jornalista,
que é negro.
Em uma
fala marcada por referências a jornalistas negros, como o próprio Abdias
Nascimento, que dá nome ao prêmio, Luiz Gama, José do Patrocínio e Hamilton
Cardoso, Heraldo Pereira, da TV Globo, revelou que defender reportagens sobre
as diferenças raciais nas empresas é tão “complicado” quanto discutir a questão
na sociedade.
“Acho que,
muitas vezes, os negros são suprimidos do noticiário, de modo geral”, avaliou
Pereira. “As pessoas acham que o Brasil é um país branco, inclusive nas
redações [centrais de reportagem das empresas de jornalismo].” Para ele, é
preciso fazer “pressão” para que assuntos sejam noticiados, além de ter mais
negros jornalistas.
Heraldo
Pereira também fez críticas ao racismo no país relatando experiências pessoais
e citando também caso de discriminação contra o fato de negros ocuparem altos
cargos em instituições como o Supremo Tribunal Federal (STF). “Sempre nos
fizeram crer que o racismo é coisa da nossa cabeça: ´Você que está
interpretando como racismo, eu não tive a intenção, eu, imagina, tenho até
empregada negra’. É sempre assim, ninguém tem nunca a intenção de ser racista”,
condenou Heraldo.
A
coordenadora do Prêmio Jornalista Abdias Nascimento, Angélica Basthi concordou
com Heraldo, mas disse que o tempo é de mudança nas redações. Segundo ela,
reportagens sobre desigualdades raciais têm saído mais na imprensa. Com a
vitória das cotas raciais em universidades, no STF, acrescentou, a cobertura
ganhará fôlego, fazendo a sociedade a repensar a condição do negro.
“A
decisão do Supremo Tribunal consolida uma luta de anos do movimento negro e
estimula a imprensa brasileira a estar mais atenta e mais sensível”, declarou
Angélica Basthi.
Durante o
evento, a viúva de Abdias, Elisa Larkin, aproveitou para cobrar da Fundação
Palmares a criação de um memorial onde as cinzas de seu ex-marido estão, no
antigo quilombo Palmares, na Serra da Barriga (AL). “A lápide foi removida do
local e a muda da árvore baobá [que representa longevidade] foi comida por
formigas. Está tudo abandonado”, reclamou.
Direcionado
a jornalistas, o Prêmio Abdias Nascimento distribuirá R$ 35 mil reais para
reportagens que abordem a temática racial no país, em sete categorias, sendo
uma delas direcionada a matérias sobre a situação da mulher negra. As
inscrições podem ser feitas por jornalistas com registro, a partir de amanhã
(11).
Edição:
Lana Cristina
Da
Agência Brasil
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