quinta-feira, 19 de abril de 2012

Mídia brasileira não é favorável as ações afirmativas

Por Mabel Dias


Em parceria com o Núcleo de Estudos Afro brasileiros e indígenas (NEABI), a Bamidelê – Organização de Mulheres negras na PB, realizou no mês de março o debate “Cotas e Cidadania – um direito seu”, no auditório 411 do CCHLA da Universidade Federal da Paraíba.

Para discutir o tema, foi convidado o professor doutor em Ciências Políticas da UERJ, João Feres Júnior, que examinou os discursos jurídicos e de cientistas sociais sobre a política de ações afirmativas no Brasil, especialmente nas universidades. De acordo com pesquisa apresentada por João Feres, realizada pelo Grupo de Estudos Multidisciplinares de Ação Afirmativa (GEMAA), da UERJ, 71,4% das universidades brasileiras implantaram alguma política de ação afirmativa. No Nordeste são 78,6%. Os meios de adoção, segundo o professor da UERJ, são através de resolução do conselho universitário ou através de lei estadual. “Os beneficiários são na maioria alunos da escola pública, seguidos de negros, indígenas, pessoas com deficiência, quilombolas e mulheres, por último”, informa João Feres.

O Gemaa também analisou o discurso da mídia em relação à política de cotas raciais. O estudo revelou que 77% dos textos publicados em veículos de grande repercussão no Brasil – entre eles a revista Veja, se colocam contrários às cotas. Apenas 14% são favoráveis. “O discurso dominante da democracia racial escamoteia o racismo e a discriminação racial no Brasil”, afirma o professor João Feres.

Há dez anos a política de cotas foi implantada no Brasil com a proposta de promover a igualdade de oportunidades para brancos e negros nas universidades brasileiras. Na UFPB, as ações afirmativas vigoram há apenas dois anos.
Para a professora do departamento do Centro de Educação da federal paraibana e integrante do Neabi, Surya Pombo, é preciso avaliar a implantação desta política nas universidades e saber como está a permanência dos alunos cotistas. “Hoje o grande desafio da UFPB é garantir a permanência dos alunos, que têm seu ingresso garantido pelas cotas. No entanto, a Universidade está protelando as medidas necessárias para isso. Embora não tenhamos todos os dados ainda, sabemos de vários casos de alunos que estão abandonando seus cursos porque não tem condições financeiras para continuar na universidade, e não tem o apoio da instituição, que insiste num apoio estudantil universal, indo contra as cotas que a própria universidade aprovou.”, conta a professora.

Ainda segundo Surya Pombo, garantir apenas a entrada dos alunos na universidade não é suficiente para resolver as distorções históricas. “Pesquisas diversas demonstram que a universidade publica brasileira é desigual, pois excluiu setores da sociedade como negros, indígenas, alunos de escolas públicas... É para tentar reverter esse quadro que as ações afirmativas são essenciais. As cotas são um tipo de ação afirmativa, inicialmente relacionadas com os processos de ingresso na universidade. No entanto, o ingresso não resolve todos os problemas, pois a permanência também precisa ser levada em consideração, para que as cotas façam funcionar uma universidade democrática, plural.”, afirma.
Para mudar esta situação é que o Núcleo de Estudos Afro-Brasileiros e Indígenas (NEABI) vai continuar atuando para que seja criada uma Comissão de Acompanhamento e Implementação de Cotas, com o objetivo de que as cotas não fracassem na UFPB em função da falta de cuidado da instituição com os alunos cotistas.“Pretendemos, também, continuar promovendo eventos semelhantes a este que realizamos em março junto com a Bamidelê, e estimulando os debates sobre tema tão importante para a sociedade paraibana.”, ressalta Surya Pombo.





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