sexta-feira, 6 de abril de 2012

Denúncia: racismo no esporte







 Por Mabel Dias

Mais uma vez, uma partida de futebol registra insultos racistas a um jogador brasileiro. Nesta quinta-feira (05), em uma partida entre o clube carioca Flamengo e o argentino Emelec, na capital do Equador, o atacante Wagner Love foi xingado de “macaco” por um torcedor do Emelec.
Mas, o caso de Wagner Love, lamentavelmente, não é o único. Outros jogadores negros já foram vítimas de racismo, tanto no Brasil quanto no exterior. Entre eles, Roberto Carlos quando era capitão do Angi, time russo. Em 2011, durante uma partida, um torcedor ofereceu banana a ele. José Maria da Silva – Neném, que hoje joga no time acreano Rio Branco, foi convidado em 2011 para jogar no time búlgaro Boter Bratz. Não demorou muito para receber ofensas de cunho racista, oriundas dos torcedores de seu próprio time. “Quando o time perdia, a culpa era sempre minha e de Victor, jogador nigeriano. Quando saíamos nas ruas, nos cuspiam e skinheads queriam nos bater”, relata Neném. Por causa da violência racista, ele decidiu voltar ao Brasil. Mesmo assim, não é garantia de que esteja longe de mais uma vez ser vítima de racismo.
Em 2005 e 2006, dois casos de racismo ganharam evidência na mídia brasileira. O primeiro partiu do jogador argentino Desabato, que atuava no Quilmes contra o jogador brasileiro Grafite, que defendia o São Paulo. Durante a partida, Desabato xingou Grafite de “macaco” e foi autuado em flagrante, sendo levado a delegacia acusado de crime racista. Desábato ficou preso por dois dias em São Paulo e acusado de injúria com agravante de racismo depois de ter insultado em campo Grafite. Após pagar uma fiança de R$ 10 mil, o defensor do clube argentino foi solto e retornou a Buenos Aires comprometendo-se a voltar para todos os atos do processo. Tempos mais tarde, infelizmente, Grafite retirou a acusação.
O outro caso de racismo aconteceu no campeonato gaúcho, em 2006. O jogador Antônio Carlos, do Juventude, após uma jogada que não foi bem sucedida, passou os dedos no seu braço, indicando que o erro teria partido do jogador Jeovânio, que é negro. Estes dois casos ganharam grande repercussão, e por isto o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva, institui uma lei para punir crimes de racismo no esporte. Lei que veio tarde demais. Segundo o procurador-geral do STDJ, atletas, técnicos e membros da comissão técnica que tiveram atitudes racistas ficarão sem jogar de 5 a 10 partidas. Se o racismo partir de torcedores, serão os times que eles estão vinculados que receberam a punição, que vai de multa, perda de pontos e de mandos.
Recentemente, o clube de vôlei Minas foi multado em 50 mil reais depois que uma torcedora gritou palavras racistas para o oposto Wallace, do Belo Horizonte. É a maior punição aplicada a um clube de vôlei em um caso de racismo --o Minas pode recorrer. Ocorrências anteriores desse tipo na Superliga nem chegaram a ser denunciadas ao STJD (Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
Diariamente, seja no esporte ou em outros espaços, o racismo está presente. Como disse o jogador de vôlei, Wallace, “enquanto não houver punição, isto vai continuar acontecendo e não dá para aceitar racismo no Brasil”. Nem em lugar algum. Racismo é crime inafiançável, mas infelizmente quando chega na delegacia é tomado como ares de “injúria ou difamação” e a pena é modificada. Nunca o agressor racista fica preso. E como no caso entre Desabato e Grafite, a vítima pode acabar retirando a queixa.
“A afirmação da identidade negra se constitui como um dos pilares para o enfrentamento ao racismo e pela promoção da igualdade racial” – Campanha de Promoção da Identidade Negra na PB

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