Por Mabel Dias
Mais uma vez, uma partida de
futebol registra insultos racistas a um jogador brasileiro. Nesta quinta-feira
(05), em uma partida entre o clube carioca Flamengo e o argentino Emelec, na
capital do Equador, o atacante Wagner Love foi xingado de “macaco” por um
torcedor do Emelec.
Mas, o caso de Wagner Love,
lamentavelmente, não é o único. Outros jogadores negros já foram vítimas de
racismo, tanto no Brasil quanto no exterior. Entre eles, Roberto Carlos quando
era capitão do Angi, time russo. Em 2011, durante uma partida, um torcedor
ofereceu banana a ele. José Maria da Silva – Neném, que hoje joga no time
acreano Rio Branco, foi convidado em 2011 para jogar no time búlgaro Boter
Bratz. Não demorou muito para receber ofensas de cunho racista, oriundas dos
torcedores de seu próprio time. “Quando o time perdia, a culpa era sempre minha
e de Victor, jogador nigeriano. Quando saíamos nas ruas, nos cuspiam e
skinheads queriam nos bater”, relata Neném. Por causa da violência racista, ele
decidiu voltar ao Brasil. Mesmo assim, não é garantia de que esteja longe de
mais uma vez ser vítima de racismo.
Em 2005 e 2006, dois casos de
racismo ganharam evidência na mídia brasileira. O primeiro partiu do jogador argentino
Desabato, que atuava no Quilmes contra o jogador brasileiro Grafite, que
defendia o São Paulo. Durante a partida, Desabato xingou Grafite de “macaco” e
foi autuado em flagrante, sendo levado a delegacia acusado de crime racista. Desábato
ficou preso por dois dias em São Paulo e acusado de injúria com agravante de
racismo depois de ter insultado em campo Grafite. Após pagar uma fiança de R$
10 mil, o defensor do clube argentino foi solto e retornou a Buenos Aires
comprometendo-se a voltar para todos os atos do processo. Tempos mais tarde, infelizmente,
Grafite retirou a acusação.
O outro caso de racismo aconteceu
no campeonato gaúcho, em 2006. O jogador Antônio Carlos, do Juventude, após uma
jogada que não foi bem sucedida, passou os dedos no seu braço, indicando que o
erro teria partido do jogador Jeovânio, que é negro. Estes dois casos ganharam
grande repercussão, e por isto o Supremo Tribunal de Justiça Desportiva,
institui uma lei para punir crimes de racismo no esporte. Lei que veio tarde
demais. Segundo o procurador-geral do STDJ, atletas, técnicos e membros da
comissão técnica que tiveram atitudes racistas ficarão sem jogar de 5 a 10
partidas. Se o racismo partir de torcedores, serão os times que eles estão
vinculados que receberam a punição, que vai de multa, perda de pontos e de
mandos.
Recentemente, o clube de vôlei
Minas foi multado em 50 mil reais depois que uma torcedora gritou palavras
racistas para o oposto Wallace, do Belo Horizonte. É a maior punição aplicada a
um clube de vôlei em um caso de racismo --o Minas pode recorrer. Ocorrências
anteriores desse tipo na Superliga nem chegaram a ser denunciadas ao STJD
(Superior Tribunal de Justiça Desportiva).
Diariamente, seja no esporte ou
em outros espaços, o racismo está presente. Como disse o jogador de vôlei,
Wallace, “enquanto não houver punição, isto vai continuar acontecendo e não dá
para aceitar racismo no Brasil”. Nem em lugar algum. Racismo é crime inafiançável,
mas infelizmente quando chega na delegacia é tomado como ares de “injúria ou
difamação” e a pena é modificada. Nunca o agressor racista fica preso. E como
no caso entre Desabato e Grafite, a vítima pode acabar retirando a queixa.
“A afirmação da identidade negra
se constitui como um dos pilares para o enfrentamento ao racismo e pela
promoção da igualdade racial” – Campanha de Promoção da Identidade Negra na PB
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