terça-feira, 10 de julho de 2012

A imprensa, o negro e a mídia no Brasil





A professora de Ensino de História e doutoranda pela Unicamp, Giovana Xavier, estudiosa da imprensa negra no Brasil, analisou jornais produzidos desde o final do século 19 até os anos 1960. Em sua pesquisa, Giovana encontrou aproximadamente 38 jornais publicados entre 1889 e 1963, feitos exclusivamente por pessoas negras. Segundo ela, a diferença dos jornais da imprensa negra para os outros é que eles narram os fatos com um viés racial explícito. “Em São Paulo houve a maior incidência desses jornais. Só de 1889 a 1932 surgiram 25”, contou.

Giovana foi incisiva ao falar sobre o tratamento que a mídia dá aos negros. “Não acho que o negro é silenciado na mídia, acho que ele é escrachado nessa mídia. E por causa desse escracho as crianças negras se sentam no final da sala de aula ou às vezes nem vão à aula quando o tema é escravidão. Eu fui uma dessas crianças”, frisou. Lembrando do legado que imprensa negra deixou, Giovana questionou o fato de continuarmos a discutir a questão do negro e da homossexualidade apenas em datas comemorativas. “Temos que pensar de outra forma e incorporar isso no cotidiano”, concluiu.

O cineasta Joel Zito Araújo é uma das referências quando se fala da maneira que o negro é retratado pela mídia brasileira. A pesquisa de Joel Araújo, nesta área, gerou o documentário “A negação do Brasil”, dirigido por ele, e o livro, também de sua autoria, “A negação do Brasil – O negro na telenovela brasileira”, Joel contou que desde um pouco antes de 1964 até 1998 um terço das novelas não mostrou nenhum negro. Entre as que mostraram, 75% fizeram isso de maneira negativa.

Para produzir a pesquisa mais recente “Onde está o negro na TV pública?”, que gerou o seu último livro “O Negro na TV pública”, Joel Zito e equipe gravaram uma semana de programação da TV pública no Brasil. No levantamento aferiram que 82% da programação não trouxe qualquer menção aos negros. Apenas em 0,9% da programação o programa foi dedicado ao negro e à cultura negra. Dos apresentadores de telejornais, 89% eram eurodescendentes, 6,2% afrodescendentes e uma parcela perto de 4% não estava em nenhuma dessas categorias. “Me assustei ao perceber que a TV Globo incorporava mais o negro do que a TV pública naquele momento”, relatou.

Ele atribui essa baixíssima inserção do negro ao imaginário racial do brasileiro. “Nós não superamos nossa mentalidade colonizada e o ideário da elite no final da escravidão que proclamava para todos os quatro cantos que o desejo nacional era fazer desse país um país branco”, opina. De acordo com Joel, apenas na segunda parte dos anos noventa começa-se a incorporar os atores negros como bonitos. Para ele, o que justifica o tabu é a persistência do ideário do branqueamento e de um medo que as elites brasileiras têm de que esta maioria da população assuma a consciência na negritude, que virá junto com a consciência de direitos, e questione o que chamou de sistema de castas, nossa patente desigualdade. “Temos uma armadilha imaginária que é reforçada pela mídia, pela escola e pela violência racial de fazer com que aqueles que estão na base da pirâmide social entendam que essa desvantagem em que ele vive é um resultado natural por ele ter nascido assim”, criticou.

Com informações de Marina Schneider

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